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Transformar a terra subutilizada em fazendas urbanas produtivas foi um dos muitos temas apresentados no Kansas City Design Week de 2013. Jerome Chou, ex-diretor de Programas no Design Trust for Public Space, apresentou sua experiência única com a implementação dos Five Borough Farms em Nova York e do impacto que a agricultura urbana pode ter em áreas de baixa renda da cidade.

Chou destacou em sua apresentação que ter a terra disponível para uma fazenda urbana é apenas metade da batalha. A outra metade envolve mudar as leis de zoneamento locais, influenciando a opinião política, conquistando apoio econômico e provando o projeto terá um benefício direto para a comunidade. Esses desafios, não sãos exclusivo de Nova York, mas também para o projeto 18th and Broadway Urban Farm de Kansas City, que também foi apresentado na Semana de Design de Kansas City.

A restrição de influenciar os líderes comunitários e políticos foi o que obrigou Chou e a equipe multi-disciplinar liderada pela Design Trust for Public Space a repensar como fazendas urbanas eram um investimento benéfico para a cidade de New York. Chou sabia por experiência que o reaproveitamento de lotes vagos forneceriam ambos, alimentos frescos e empregos para os moradores da Fazenda Comunitária de Red Hook. Chou também apontou que os funcionários municipais estavam muito relutantes em dar o seu apoio ao projeto, especialmente em uma cidade onde o prefeito Bloomberg era famoso por twittar “Em Deus nós confiamos. Todos os outros, tragam dados “. Primeiro passo da equipe foi encontrar estudos sobre como fazendas urbanas influenciavam as comunidades locais e apresentar seus dados para ganhar apoio político. A Design Trust teve dificuldade em encontrar estudos sobre fazendas urbanas, mas encontrou diversas pedaços de dados isolados, tais como como ter abelhas em uma cidade aumenta a biodiversidade de plantas, e de como acesso a alimentos saudáveis melhora a saúde dos moradores locais. A equipe percebeu que teria de reorganizar a sua abordagem e os resultados finais seriam o primeiro do tipo.


Design Trust montou um marco métrico que mede as atividades associadas da agricultura urbana com os benefícios conhecidos derivados de diversos estudos. Este quadro foi um passo importante para o Five Borough Farms, pois tornou-se um dispositivo de marketing para ajudar a convencer as autoridades da cidade sobre os impactos positivos que a agricultura urbana pode ter sobre a comunidade. Chou sabia que a coleta dos dados necessários para reforçar o quadro não seria um processo fácil, pois apaixonados agricultores urbanos não têm tempo para realizar grandes estudos. A Design Trust está atualmente desenvolvendo uma ferramenta que ajuda os agricultores urbanos medir esses benefícios. A ferramenta de amostra em Five Borough Farms mede os benefícios econômicos que os agricultores urbanos podem facilmente registrar, como a quantidade de alimentos produzidos (em peso) e o número de pessoas treinadas em uma habilidade de trabalho específica na fazenda urbana.

A ferramenta mais importante – atualmente em beta fechado – mede o trabalho feito em um nível global do marco métrico. Esta ferramenta irá medir as consequências sociais, ecológicas, econômicas e indicadores de saúde, tais como o número de alunos de escolas participantes em programas de ecologia do sistema alimentar, o dinheiro gerado a partir de mercados de vendas de agricultores de base do urbana, e o percentual pessoas de baixa renda em CSAs ligadas à exploração agrícola, para citar alguns exemplos. Combinando estes dados outros sites como 596acres.org , um site que gera gráficos sobre lotes vagos disponíveis que podem ser usados para a agricultura, em Nova York, dá aos cidadãos as ferramentas que eles precisam para começar uma fazenda urbana e aos agricultores os meios para ver o progresso que eles têm em uma comunidade ao longo do tempo.

A Design Trust for Public Space tem planos de lançar a sua ferramenta de coleta de dados para o público em um futuro próximo, mas a estrutura métrica o novo livro sobre o trabalho do grupo estão disponíveis on-line . Este programa vai ajudar muito os agricultores urbanos ao redor do mundo a coletar dados importantes com facilidade e ter as ferramentas certas para convencer os funcionários públicos sobre os benefícios que a agricultura urbana pode trazer para a cidade.


Kyle Rogler é formado em arquitetura e trabalha na BNIM Architects. Ele escreve e reúne artigos sobre arquitetura, design urbano, e de código aberto em seu blog Studio630.

15 de Julho de 2013

 
 

Estudo sugere que biodiversidade urbana equivale a entre 8% e 25% da encontrada em habitats naturais; especialistas defendem preservação de áreas verdes para aumentar número de espécies e melhorar bem-estar humano


Nos últimos séculos, o ser humano se tornou cada vez mais urbano, e esse processo tem tido um impacto inegável sobre a natureza: o desenvolvimento de cidades repletas de concreto, asfalto e indústrias poluentes causou grandes perdas à biodiversidade, sobretudo no entorno de grandes congregações populacionais. Mas um novo estudo afirma que um número relativamente alto de espécies continua a sobreviver nas cidades, e mais ainda podem se desenvolver se houver esforços de conservação de áreas verdes urbanas.

A pesquisa indica que, ao contrário do que se pensa, os centros urbanos não são locais ‘inférteis’ para a biodiversidade. No total, foram analisadas 147 cidades – em 54 foram avaliadas espécies de aves e, em 110, de vegetais – e descobriu-se que, em média, 8% das espécies de aves e 25% das espécies de plantas das regiões examinadas sobrevivem à urbanização do local.

O estudo, publicado pelos periódicos Proceedings B e Nature, aponta também que, enquanto algumas espécies, como pombos e a gramínea Poa annua, são encontradas em várias cidades, a maioria das espécies ‘urbanas’ reflete a herança da biodiversidade de determinada região geográfica. Isso significa que uma porcentagem das espécies nativas continua a sobreviver depois da urbanização.

“As cidades e áreas urbanas não são tão desprovidas de biodiversidade como podemos pensar. Nossas descobertas indicam que as cidades oferecem habitat para uma série de plantas e animais”, observou Chris Lepczyk, professor do Departamento de Recursos Naturais e Gestão Ambiental da Universidade do Havaí em Manoa.

“Isso é importante porque a maioria das pessoas ao redor do mundo vive em áreas urbanas, e então a biodiversidade em cidades é essencial para as pessoas terem uma conexão direta com a natureza”, acrescentou Lepczyk.

Infelizmente, os resultados da pesquisa sugerem que, embora essa biodiversidade urbana seja maior do que se esperava, ela ainda é muito pequena se comprada à biodiversidade presente no meio natural.

Por isso, a análise ressalta o valor de espaços verdes nas cidades, alegando que eles se tornaram refúgios importantes para as espécies nativas e também para as que migraram posteriormente para a região.

Esse fenômeno de agregação da biodiversidade em áreas urbanas é chamado de Efeito Central Park, por causa do grande número de espécies que é encontrado no parque nova-iorquino, uma ilha verde dentro de Manhattan.

“Embora a urbanização tenha feito as cidades perderem grandes quantidades de plantas e animais, a boa notícia é que as cidades ainda mantêm espécies endêmicas nativas, o que abre a porta para novas políticas sobre a conservação regional e global da biodiversidade”, comentou Myla F.J. Aronson, pesquisadora do Departamento de Ecologia, Evolução e Recursos Naturais da Universidade Estadual de Rutgers, em Nova Jérsei.

De fato, conservar espaços verdes, restaurar espécies de plantas nativas e criar habitats que respeitem a biodiversidade dentro do espaço urbano poderia estimular uma maior biodiversidade nas cidades. E segundo um estudo feito recentemente em espaços verdes em Sheffield, na Inglaterra, uma maior biodiversidade pode inclusive melhorar o bem-estar psicológico dos habitantes de uma cidade.

“É verdade que as cidades já perderam uma grande proporção da biodiversidade de sua região. Isso pode ser um cenário de um copo meio cheio ou meio vazio. Se agirmos agora e repensarmos o desenho de nossas paisagens urbanas, as cidades podem ter um grande papel na conservação de espécies vegetais e animais e ajudar a trazer de volta mais deles”, declarou Madhusudan Katti, membro do departamento de biologia da Universidade Estadual da Califórnia em Fresno.

Felizmente, há alguns exemplos de cidades que contam com uma rica biodiversidade. A maioria delas apresenta áreas verdes urbanas de grande extensão, como no caso do Central Park em Nova Iorque, ou até mesmo têm proximidade com um parque nacional ou outro tipo de área protegida, como Nairóbi, no Quênia, cujo parque nacional fica há apenas alguns quilômetros da cidade, o que resulta em mais de 300 espécies de aves no município.

Além disso, a última década apresentou alguns marcos significativos em busca de uma maior biodiversidade nas cidades. Em 2006, alguns governos municipais pioneiros, de Curitiba a Joondalup, na Austrália, criaram o Ação Local pela Biodiversidade, programa que visa melhorar e reforçar a gestão ecossistêmica em nível local.

No caso de Curitiba, o programa BioCidade colocou como objetivo: reintroduzir espécies de plantas ornamentais nativas da cidade, estabelecer unidades de conservação com a participação da sociedade, preservar os recursos hídricos, plantar espécies nativas de árvores, e melhorar a qualidade do ar, a mobilidade e o transporte através de um projeto que visa à criação de corredores de transporte com faixas especiais para ciclistas e pedestres.

“A mensagem chave desse trabalho é muito simples. A proteção dos espaços verdes existentes e a criação de novos habitats são essenciais para apoiar a vida selvagem nas cidades. Como podemos realmente fazer isso é mais difícil, e exigirá a colaboração entre cientistas, planejadores urbanos e gestores de habitat”, concluiu Mark Goddard, biólogo da Universidade de Leeds e um dos autores da pesquisa.

 
 

A importância que adquiriu a agricultura urbana nos últimos tempos demonstra o interesse das pessoas por opções de alimentação mais saudáveis através de mecanismos amigáveis ao meio ambiente.

Os recentes projetos de agricultura urbana se realizam sob o princípio “faça você mesmo” e ocorrem graças à iniciativa das comunidades.  No entanto, segundo a revista online Cities Magazine e o centro de investigação holandês Trancity, este modelo de organização não permite a criação de um movimento social unificado capaz de gerar mudanças em escala global.

Com o objetivo de mudar esse panorama, o livro “Cultivando a Cidade: A Alimentação como Ferramenta para a Urbanização de Hoje” foi conjuntamente publicado. A ideia é conectar ativistas e especialistas internacionais para que troquem conhecimentos e aumentem o impacto dessa forma de cultivo na sociedade.

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A mensagem central do livro é como a comida pode ser utilizada como ferramenta para o desenvolvimento urbano. Ele argumenta que com um planejamento cuidadoso, a execução desses projetos pode eliminar o paradoxo urbano de que “quanto mais nos agrupamos nos centros urbanos, mais longe estaremos das nossas fontes de sustento”.

Na introdução, escrita por Carolyn Steel, arquiteta britânica e autora de “Cidades Famintas: Como a Comida Molda Nossas Vidas”, afirma, num tom esperançoso, que através das cidades do mundo, a comida está voltando às casas.

Ao longo da publicação “Cultivando a Cidade”, se estabelece que a agricultura urbana é um processo de baixo para cima. Também fala que a mesma é “oportunista por natureza” e que se adapta “às possibilidades e limitações da cidade”. Por consequência, o livro afirma que funcionários municipais e planejadores devem reconhecer isso, mudando seu papel, fazendo mapeamentos com o objetivo de identificar lugares onde a agricultura urbana pode se desenvolver.


© john.murden, via Flickr


O livro está organizado como uma coleção de ensaios que explicam uma série de atividades, sempre com testemunhos de agricultores urbanos e pensadores, seguida de estudos de caso que mostram uma análise acadêmica acessível juntamente a descrições de projetos em todo mundo. Também há um infográfico que ilustra conceitos importantes e cujo desenho coerente unifica os projetos ante a diversidade dos mesmos. São apresentados conceitos de Jan Jogert publicados em “Cidade Resiliente”, que apela por uma conexão dos fluxos urbanos, tais como alimentos, energia, água e dinheiro, para uma cidade integrada e regenerativa. Um exemplo disto é GroHolland, uma empresa que abastece restaurantes com cogumelos cultivados em cafeterias – um excelente exemplo de como reintegrar fluxos urbanos.


© DCF_pics, via Flickr


Em “Cultivando a Cidade”, também são incluídos estudo de casos de vários países, como a história do FoodShare, um lugar que se baseia na organização da seguridade alimentar em Toronto. Também este é o caso de Debra Solomon e Mariska Van den Berg, do escritório holandês de desenho social Urbania Hoeve, especializado em realizar transformações de espaços públicos desde as comunidades, para impulsionar socialmente os mesmos. O escritório estabeleceu esta experiência com o projeto‘Foodscape’, em Haia, onde se ensinou àqueles que tomam decisões a superar os abismos culturais e profissionais. Com o tempo, a burocracia municipal, que de acordo com seus criadores, pode ser um processo longo, traz uma maior criatividade para a formação de espaços públicos socialmente coesos, aumentando a diversidade e com alimentos de qualidade.

O livro traz uma diversidade de conceitos e estudos de caso de todo o mundo que os resume em recomendações claras sobre como a comida pode ser utilizada como uma ferramenta para o desenvolvimento urbano. Ressaltando a diversidade das agriculturas urbanas, seu desenvolvimento nas cidades define a importância de estabelecer um “campo de alimentos locais”, parecido ao campo criativo que foi atrativo para os planejadores urbanos na década passada. Um campo com os alimentos agrupados, com seu próprio conjunto de demandas urbanas, articulações espaciais e interdependências sociais é capaz de chegar aos vazios da cidade e incentivar o desenvolvimento de novas redes e comunidades urbanas.

A força de “Cultivando na Cidade” reside em sua capacidade de mudar as descrições técnicas desde as melhores práticas de jardinagem urbana à teoria social de mais amplo alcance. Para unir os pontos entre a teoria e prática com os projetos de agricultura urbana internacional, o livro estabelece uma cena fragmentada dos jardins na cidade como um amplo movimento social, capazes de colaborar, apoiar e inspirar.


Courtesy of farmingthecity.net


A equipe que criou o livro, também lançou um website, que funciona como uma extensão natural das recomendações da publicação para apoiar e potencializar os projetos locais de cultivo de alimentos. Lançado em 2011, a página é uma plataforma para todos os assuntos da agricultura urbana. Inclui um mapa interativo das iniciativas de agricultura urbana em todo o mundo, uma seção de disponibilidade de voluntários, conselhos sobre as melhores práticas de jardinagem, a negociação e anúncios dos vazios urbanos disponíveis para a agricultura urbana de todo o mundo (incluindo os tetos vazios, lotes e parques). É um recurso acessível, que se adota amplamente – talvez através das redes sociais – e tem o potencial de vincular significativamente os esforços internacionais para cultivar a cidade em um movimento mundial e unificado de agricultura urbana.

Por Constanza Martínez Gaete, via Plataforma Urbana. Tradução Archdaily Brasil.

 
 
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