- 2 de jul. de 2015
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Na Roda de Conversa sobre gestão de resíduos orgânicos, realizada no dia 11 de junho, contamos com a participação do Spiralixo, da Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas, do Departamento de Engenharia Sanitária da UFMG (DESA), da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), do Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (INSEA) e do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (CEPAGRO). Estiveram presentes também o Colégio Técnico da UFMG (COLTEC) e a Fundação Zoobotânica.

O grupo Spiralixo apresentou seu empreendimento de economia solidária, que oferece capacitação em construção de minhocários, relacionando alimentação e gestão dos resíduos orgânicos. Inspirado na “Revolução dos Baldinhos” o projeto tem foco em soluções e alternativas de desenvolvimento de tecnologias para a destinação e transformação do lixo orgânico.
O INSEA apresentou a proposta do instituto, que consiste no resgate da cidadania de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Um dos seus projetos de desenvolvimento sustentável consiste na construção participativa de alternativas de proteção sócio-ambiental, entre elas a redução do lixo orgânico nos lixões e o seu aproveitamento para a produção de composto orgânico.

O Professor Raphael Tobias de Vasconcelos Barros, do DESA, apontou que a questão ambiental ainda é vista como secundária pela sociedade. Sua fala problematizou a gestão dos resíduos orgânicos gerados na universidade pelos bandejões, que carecem de destinação adequada. Hoje apenas as folhas que caem das árvores da UFMG são levadas para a compostagem. O professor apontou experiências positivas com a compostagem e outras alternativas para o lixo dentro e fora de Belo Horizonte.

Júlio César Maestri, agrônomo e educador ambiental do CEPAGRO (Forianópolis/SC), apresentou o trabalho de reeducação desenvolvido em escolas públicas de Florianópolis e a experiência da “Revolução dos Baldinhos”. Segundo ele, é necessário fazer com que as crianças entendam os alimentos, de onde eles vem, como são, como cheiram, entre outros aspectos, para retomar o contato das crianças com a terra e, a partir disso, sensibilizá-las para a gestão dos resíduos orgânicos. No projeto da Revolução dos Baldinhos baldes são distribuídos para as comunidades para coleta dos resíduos orgânicos gerados nas cozinhas domésticas. O projeto começou com cinco famílias e hoje conta com noventa e duas. Além da Revolução, César apresentou outros trabalhos da instituição que servem como o modelo para cidades sustentáveis.
A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) trouxe um histórico da implantação da Usina de Reciclagem e Compostagem da Prefeitura, criada em 1975 e desativada em 1995. Em 1995 foi implantada também pela Prefeitura a Central de Tratamento de Resíduos Sólidos de Belo horizonte que, embora simplificado, tem a capacidade de processar 20t/dia, processando hoje apenas 10t/dia. O programa recicla restos de podas de árvores e resíduos orgânicos coletados em estabelecimentos comerciais. Os desafios a serem solucionados pela reciclagem destes resíduos são o mau cheiro, a atração de vetores, a pequena área disponível e a falta de investimentos.

Luana Dayrell, engenheira agrônoma e técnica da Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas, apresentou um histórico da ONG, que atua há 30 anos na RMBH e desenvolve projetos de agroecologia em áreas urbanas e na região leste de Minas Gerais. Luana apresentou exemplos de interfaces entre agricultura urbana e gestão comunitária de resíduos orgânicos que vem sendo construídos pela instituição com diferentes atores.
Inicialmente, trabalhavam a temática sob a perspectiva da separação correta do lixo. No entando, após a realização de uma oficina com o Spiralixo, o minhocário foi inserido no plano de trabalho e realizadas oficinas de baixo custo sobre a temática. Estas ações possibilitaram a formação de “multiplicadores de minhocas”, resultando em um plano de gestão comunitária de resíduos na região do Baixo Onça. Da mesma forma, através de uma capacitação com o CEPAGRO, vem desenvolvendo um trabalho com compostagem na região do Baixo Onça em parceria com agricultoras, sacolões, igrejas e postos de saúde locais. Os resíduos orgânicos são coletados em sacolões, armazenados em bombonas especiais, separados (identificou-se um grande desperdício de alimentos pelos sacolões; cerca de metade da coleta foi aproveitado para a alimentação) e que seguem para as composteiras da horta através de uma “rota de compostagem”. Resíduos secos como a palha de arroz são recolhidos na CEASA e encaminhados para a horta. O desafio consiste em garantir que o resíduo seco chegue às hortas sem a mediação da instituição, que hoje garante o transporte desta palha.
Além destas ações, hoje a ONG trabalha com a perspectiva da compostagem domiciliar e institucional para tentar suprir a enorme demanda por composto orgânico no contexto urbano. A UMEI Ribeiro de Abreu, por exemplo, possui uma pequena horta e realiza ações de formação com os professores em parceria com técnicos da ONG, além de envolver os pais dos alunos no processo de recolhimento dos resíduos.
No contexto das ocupações urbanas a ONG realiza em parceria com a Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana, as Brigadas Populares e o grupo “Agroecologia e Permaocupas”, oficinas sobre compostagem e minhocário com agricultores/as nos quintais da Ocupação Vitória, na região da Izidora.
Luana mencionou também a possibilidade de se criar um fórum de discussão para fortalecer o debate sobre a gestão de resíduos sólidos no âmbito da agricultura urbana. Outra possibilidade seria a criação de instalações pedagógicas sobre a temática como estratégia para a construção de conhecimento sobre a temática em diferentes contextos da RMBH.
No debate discutiu-se sobre a urgência em se construir um modelo de gestão municipal dos resíduos orgânicos na RMBH que institucionalize diretrizes para a coleta de resíduos domiciliares, de restaurantes e sacolões; para a capacitação de catadores (agregando aqueles que já trabalham com a separação dos resíduos orgânicos); e ampliação do serviço de coleta seletiva, levando em consideração os diferentes usos destes resíduos. Além da importância de se criar um fórum de discussão para fortalecer o debate, uma vez que “mais de 90% dos resíduos produzidos em Belo Horizonte são destinados aos aterros sanitários”, como apontou Carla (SLU). O direcionamento correto dos resíduos orgânicos reduziria consideravelmente este percentual e a sobrecarga nos lixões. O resíduo domiciliar orgânico representa cerca de 50% do lixo gerado pelas famílias no dia a dia.
O professor Rafael (DESA) enfatiza que “a solução está na mudança de hábitos” e na necessidade de reeducação da sociedade para a separação do lixo. Além de ser uma solução sustentável, a gestão correta dos resíduos orgânicos traria resultados positivos para a saúde pública, o meio ambiente e a sociedade, podendo gerar redes de cooperação entre moradores e comunidades.
