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  • 22 de abr. de 2016
  • 1 min de leitura

Está disponível o documento de sistematização das pautas discutidas na plenária das mulheres do I Encontro Nacional de Agricultura Urbana, ocorrido em outubro de 2015 no Rio de Janeiro. A publicação pode ser utilizada como subsídio para fortalecer e ampliar a discussão do protagonismo das mulheres na agricultura urbana em luta por autonomia.

No I ENAU, as mulheres representaram mais de 50% das participações. Também foram maioria na composição da Comissão Organizadora do Encontro, bem como na Comissão Político Pedagógica e tiveram notável participação nas mesas, oficinas, instalações pedagógicas e na produção e comercialização da Feira de Saberes e Sabores.


MULHERES CONSTRUINDO AGROECOLOGIA URBANA
  • 2 de jul. de 2015
  • 4 min de leitura

Na Roda de Conversa sobre gestão de resíduos orgânicos, realizada no dia 11 de junho, contamos com a participação do Spiralixo, da Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas, do Departamento de Engenharia Sanitária da UFMG (DESA), da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), do Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (INSEA) e do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (CEPAGRO). Estiveram presentes também o Colégio Técnico da UFMG (COLTEC) e a Fundação Zoobotânica.


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O grupo Spiralixo apresentou seu empreendimento de economia solidária, que oferece capacitação em construção de minhocários, relacionando alimentação e gestão dos resíduos orgânicos. Inspirado na “Revolução dos Baldinhos” o projeto tem foco em soluções e alternativas de desenvolvimento de tecnologias para a destinação e transformação do lixo orgânico.

O INSEA apresentou a proposta do instituto, que consiste no resgate da cidadania de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Um dos seus projetos de desenvolvimento sustentável consiste na construção participativa de alternativas de proteção sócio-ambiental, entre elas a redução do lixo orgânico nos lixões e o seu aproveitamento para a produção de composto orgânico.


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O Professor Raphael Tobias de Vasconcelos Barros, do DESA, apontou que a questão ambiental ainda é vista como secundária pela sociedade. Sua fala problematizou a gestão dos resíduos orgânicos gerados na universidade pelos bandejões, que carecem de destinação adequada. Hoje apenas as folhas que caem das árvores da UFMG são levadas para a compostagem. O professor apontou experiências positivas com a compostagem e outras alternativas para o lixo dentro e fora de Belo Horizonte.


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Júlio César Maestri, agrônomo e educador ambiental do CEPAGRO (Forianópolis/SC), apresentou o trabalho de reeducação desenvolvido em escolas públicas de Florianópolis e a experiência da “Revolução dos Baldinhos”. Segundo ele, é necessário fazer com que as crianças entendam os alimentos, de onde eles vem, como são, como cheiram, entre outros aspectos, para retomar o contato das crianças com a terra e, a partir disso, sensibilizá-las para a gestão dos resíduos orgânicos. No projeto da Revolução dos Baldinhos baldes são distribuídos para as comunidades para coleta dos resíduos orgânicos gerados nas cozinhas domésticas. O projeto começou com cinco famílias e hoje conta com noventa e duas. Além da Revolução, César apresentou outros trabalhos da instituição que servem como o modelo para cidades sustentáveis.

A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) trouxe um histórico da implantação da Usina de Reciclagem e Compostagem da Prefeitura, criada em 1975 e desativada em 1995. Em 1995 foi implantada também pela Prefeitura a Central de Tratamento de Resíduos Sólidos de Belo horizonte que, embora simplificado, tem a capacidade de processar 20t/dia, processando hoje apenas 10t/dia. O programa recicla restos de podas de árvores e resíduos orgânicos coletados em estabelecimentos comerciais. Os desafios a serem solucionados pela reciclagem destes resíduos são o mau cheiro, a atração de vetores, a pequena área disponível e a falta de investimentos.


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Luana Dayrell, engenheira agrônoma e técnica da Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas, apresentou um histórico da ONG, que atua há 30 anos na RMBH e desenvolve projetos de agroecologia em áreas urbanas e na região leste de Minas Gerais. Luana apresentou exemplos de interfaces entre agricultura urbana e gestão comunitária de resíduos orgânicos que vem sendo construídos pela instituição com diferentes atores.

Inicialmente, trabalhavam a temática sob a perspectiva da separação correta do lixo. No entando, após a realização de uma oficina com o Spiralixo, o minhocário foi inserido no plano de trabalho e realizadas oficinas de baixo custo sobre a temática. Estas ações possibilitaram a formação de “multiplicadores de minhocas”, resultando em um plano de gestão comunitária de resíduos na região do Baixo Onça. Da mesma forma, através de uma capacitação com o CEPAGRO, vem desenvolvendo um trabalho com compostagem na região do Baixo Onça em parceria com agricultoras, sacolões, igrejas e postos de saúde locais. Os resíduos orgânicos são coletados em sacolões, armazenados em bombonas especiais, separados (identificou-se um grande desperdício de alimentos pelos sacolões; cerca de metade da coleta foi aproveitado para a alimentação) e que seguem para as composteiras da horta através de uma “rota de compostagem”. Resíduos secos como a palha de arroz são recolhidos na CEASA e encaminhados para a horta. O desafio consiste em garantir que o resíduo seco chegue às hortas sem a mediação da instituição, que hoje garante o transporte desta palha.

Além destas ações, hoje a ONG trabalha com a perspectiva da compostagem domiciliar e institucional para tentar suprir a enorme demanda por composto orgânico no contexto urbano. A UMEI Ribeiro de Abreu, por exemplo, possui uma pequena horta e realiza ações de formação com os professores em parceria com técnicos da ONG, além de envolver os pais dos alunos no processo de recolhimento dos resíduos.

No contexto das ocupações urbanas a ONG realiza em parceria com a Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana, as Brigadas Populares e o grupo “Agroecologia e Permaocupas”, oficinas sobre compostagem e minhocário com agricultores/as nos quintais da Ocupação Vitória, na região da Izidora.

Luana mencionou também a possibilidade de se criar um fórum de discussão para fortalecer o debate sobre a gestão de resíduos sólidos no âmbito da agricultura urbana. Outra possibilidade seria a criação de instalações pedagógicas sobre a temática como estratégia para a construção de conhecimento sobre a temática em diferentes contextos da RMBH.

No debate discutiu-se sobre a urgência em se construir um modelo de gestão municipal dos resíduos orgânicos na RMBH que institucionalize diretrizes para a coleta de resíduos domiciliares, de restaurantes e sacolões; para a capacitação de catadores (agregando aqueles que já trabalham com a separação dos resíduos orgânicos); e ampliação do serviço de coleta seletiva, levando em consideração os diferentes usos destes resíduos. Além da importância de se criar um fórum de discussão para fortalecer o debate, uma vez que “mais de 90% dos resíduos produzidos em Belo Horizonte são destinados aos aterros sanitários”, como apontou Carla (SLU). O direcionamento correto dos resíduos orgânicos reduziria consideravelmente este percentual e a sobrecarga nos lixões. O resíduo domiciliar orgânico representa cerca de 50% do lixo gerado pelas famílias no dia a dia.

O professor Rafael (DESA) enfatiza que “a solução está na mudança de hábitos” e na necessidade de reeducação da sociedade para a separação do lixo. Além de ser uma solução sustentável, a gestão correta dos resíduos orgânicos traria resultados positivos para a saúde pública, o meio ambiente e a sociedade, podendo gerar redes de cooperação entre moradores e comunidades.


foto roda 3

Por Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana (AMAU)

Autores: Bruno Demétrio Pereira da Luz Tatiana Pimentel Fischer Fonseca Vivian Franchi Tofanelli

Em agosto de 2014, deu-se início a um trabalho junto aos moradores da Ocupação Vitória, localizada na região da Isidora, que visava fortalecer iniciativas de produção agroecológica existentes no território e fomentar ações de conservação ambiental no processo de ocupação do espaço.

A ação tem sido desenvolvida por integrantes da AMAU – Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana, organização da sociedade civil que tem entre seus objetivos: ser um espaço permanente de diálogo e encontro de agricultoras/es urbana/os e familiares de grupos que desenvolvem ou apoiam iniciativas de agroecologia na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH); valorizar e interconectar iniciativas de agricultorxs da região, sobretudo os socialmente vulneráveis, fortalecendo o diálogo com o poder público; unir e fortalecer os parceiros na difusão e mobilização de ações que promovam segurança alimentar, economia solidária, auto-organização das mulheres, resgate e manutenção da agrobiodiversidade e dos saberes tradicionais.

O trabalho teve início com o mapeamento de moradora/es que já desenvolviam algum tipo de cultivo em seus quintais. Nesta etapa foi possível encontrar uma variedade riquíssima de alimentos: amendoim vermelho e roxo, uva branca, feijão andu, banana prata, jiló, berinjela, quiabo, alface, mostarda, coentro, feijão de corda, diversas pimentas, cebolinha, funcho, chuchu, abóbora, jaca, erva cidreira, hortelã, hortelã- pimenta, inhame, taioba, laranjinha quicã, maracujá, palma, alho, cebola, jiquiri, batata-doce, pau-brasil, mandioca, abóbora moranga, juá, mamão, tomate, quiabo-chifre-de-veado, milho, caju, limão, banana dedo-de-moça, banana ouro, banana açucarema, banana da terra, coco anão, melancia, laranja campista, laranja Bahia, almeirão, cana, lágrima de nossa senhora, taboa, jaborandi, cana de macaco, metiolate, capim meloso, carqueja, cenoura, beterraba,… Além da criação de animais como galinhas, codornas e tilápias. Um dos agricultores identificados relatou que chegou a colher chegou a colher sacas de arroz e feijão que consumiu ao longo de meses. Tem-se conhecimento de criadores de abelhas nativas próximo à região de mata.

Devido à grande extensão do território da Ocupação Vitória, a ação de mapeamento se desenvolveu utilizando técnicas de amostragem participativa, que permitiram acessar uma diversidade de realidades e indivíduos que desenvolvem algum tipo de atividade agrícola. Percebe-se, portanto, a potencialidade agrícola e ambiental da Ocupação Vitória.

Após a etapa de mapeamento, foi realizado o I Encontro dos Agricultores da Ocupação Vitória no dia 24 de agosto de 2014, onde esteve presente um número expressivo de participantes, dentre moradores e apoiadores das ocupações. Após um café da manhã coletivo, os participantes se apresentaram, dizendo seus nomes e lugares de origem, predominando o interior de Minas entre as respostas. Também responderam a pergunta “o que significa sua horta/terra pra você?” revelando conhecimentos sobre plantas medicinais e o sonho de se criar um espaço de saúde natural na comunidade; a perspectiva de criação de uma horta comunitária e uma casa de sementes; a gestão dos resíduos orgânicos. Uma moradora relatou como se curou da depressão ao ir morar na ocupação. Outra afirmou “Não gosto de apartamento, me sinto passarinho na gaiola. Aqui eu volto à minha infância”. Em outro momento foi discutida a sacralidade da água e a importância de preservá-la.

Por sugestão de um dos moradores, optou-se pela construção da horta comunitária como uma primeira ação. O acesso à água foi o primeiro entrave apresentado pelo coletivo. Decidiu-se cavar um poço para captação da água através de mutirões. A partir desta ação, deu-se início aos mutirões para construção da horta com a delimitação dos canteiros, realização de rodas de conversas sobre manejo adequado dos solos e plantios agroecológicos. Houve a participação de crianças, jovens e adultos, alguns com a mão na terra, outros preparando o lanche para o momento de confraternização. A promoção da integração entre diferentes faixas etárias é um aspecto que merece destaque dentre as potencialidades da interação com a terra e com o meio ambiente.

Uma parceria entre integrantes da AMAU e das Brigadas Populares (BP’s) resultou em um ciclo de oficinas agroecológicas realizadas no território da Ocupação Vitória. As oficinas foram realizadas nos quintais produtivos dos moradores participantes, tendo como temáticas: a gestão comunitária de resíduos orgânicos com ênfase na compostagem (12 e 26/4/15), o manejo agroecológico de solos e conservação ambiental (17/5/15), a adubação do solo sem o uso de fertilizantes químicos (31/5/15) e a propagação de plantas e agrobiodiversidade (14/6/15). O último módulo, controle ecológico de doenças e pragas, será realizado dia 5/6/15, juntamente com o encerramento deste primeiro ciclo de atividades. Este momento consistirá em uma avaliação junto aos participantes e exposição de vídeos sobre a diversidade de agriculturas existentes, acompanhados de caldos preparados com ingredientes colhidos nos quintais. A entrega dos certificados está programada para o dia 11/6/15, data em que se comemora o aniversário da ocupação.

A prática agrícola em meios urbanos não é novidade, apesar de apenas recentemente ter entrado nas pautas de discussões acadêmicas e institucionais. Desde a década de 1980, mesmo que de maneira incipiente, tal prática é tomada como uma resposta aos desafios colocados aos governos locais, responsáveis por criar ações públicas contra a fome e a pobreza urbana. É apontada também como capaz de contribuir para redução da mortalidade infantil, melhorar a saúde materna e assegurar o desenvolvimento ambiental (se há dados, citar fonte). Três argumentos tem sido invocados como incentivo às práticas de agricultura urbana em várias cidades do mundo ressaltando suas potencialidades para contribuir com a resolução de problemas sociais e ambientais urbanos – eles estão relacionados à promoção de um conceito de cidade que articule a cidade ecológica, a cidade produtiva e a cidade inclusiva.

Até a década de 1970, prevalecia entre os movimentos ambientalistas a ideia de oposição entre campo e cidade, sendo esta compreendida como elemento consumidor de recursos naturais e degradador do ambiente natural. A partir da década de 1980, passa-se a questionar a ideia de cidade como oposta ao ambiente natural, procurando pensá-la como um ecossistema, sujeito às trocas de matéria e energia.

A partir destas novas ideias, surgiram argumentos técnicos, de ordem ambiental, favoráveis ao cultivo de alimentos dentro das cidades e que sustentam a dimensão de cidade ecológica. São eles: a redução do consumo de combustíveis fósseis no transporte de alimentos, manutenção de áreas permeabilizadas, melhoria do clima local e da biodiversidade urbana.

Já a dimensão de cidade produtiva, coloca a agricultura urbana como uma alternativa plausível para o cultivo de alimentos para atender à população marginalizada e desnutrida em contextos de crises diversas. Aplica-se especialmente às políticas públicas voltadas para promoção de segurança alimentar e combate à pobreza urbana, além de ser uma atividade potencialmente geradora de renda através da comercialização dos produtos cultivados e processados. Com relação a este último aspecto, em geral esta comercialização se dá através de circuitos-curtos, forma de comercialização na qual há, no máximo, um intermediário entre o produtor e o consumidor, garantindo assim preços mais justos dentro da ótica da economia solidária.

Ressalta-se ainda a dimensão de promoção de saúde e empoderamento do indivíduo sobre sua própria realidade, ao ter acesso a alimentos saudáveis e livres de agrotóxicos, fato diretamente relacionado à prevenção de doenças. Por outro lado, é comum o cultivo de plantas medicinais para usos fitoterápicos, normalmente ministrados pelos “raizeiros”, hábito que vai na contramão do consumo de remédios caros, muitas vezes agressivos à saúde humana, e que também representa um alívio no tão sobrecarregado Sistema Único de Saúde (SUS).

Por fim, a agricultura urbana torna-se elemento de inclusão social na medida em que as iniciativas dos indivíduos e os saberes locais passam a ser valorizados e considerados elementos formadores de identidade cultural, mostrando que são diversos os desejos e as possibilidades de existência na cidade.

Uma forma historicamente encontrada pela população de baixa renda – nitidamente desfavorecida na disputa de forças dentro do território urbano – de poder sobreviver com um mínimo de dignidade e reproduzir seus hábitos, valores e práticas, é através das ocupações, podendo ser estas espontâneas ou previamente organizadas.

Suscita-se aqui a reflexão acerca da adequação do modelo de produção de habitação de interesse social colocado – Minha Casa, Minha Vida (MCMV) – à realidade dos sujeitos contemplados por esta política pública. Sem dúvida o MCMV constitui o programa social que mais construiu moradias para baixa renda no país, mas ele ainda peca ao dialogar com as práticas culturais de boa parte de seus beneficiários, que não tem outra opção que não apartamentos de 40 m2 ou nada. Política pública não é esmola, e sim direito. Há ainda um agravante: muitos dos agricultores são homens solteiros, não sendo enquadrados dentro dos critérios do MCMV, estando fadados a não conseguir nenhum tipo de casa própria. Qual solução o Estado apresenta para esses indivíduos?

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